Video-cenário para Ópera Eletrônica Roda da Fortuna – 2005
Roda da Fortuna é uma ópera eletrônica com piano, música eletrônica e um videocenário que acompanha todo o espetáculo. Ao todo foram 14 vídeos que, somados, ultrapassam 50 minutos de duração.
As gravações foram realizadas em Porto Alegre, em Belo Horizonte, em Tiradentes, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.
O espetáculo estreou em São Paulo no dia 7 de outubro de 2005, no teatro Alpha, sob direção de Alan Castelo. E, em 2006, na sala Baden Powell, com direção de Luis Arthur Nunes.
O espetáculo pretendia renovar a ópera por meio das artes e das novas tecnologias. Com participação da cantora lírica Ana Maria Rigoto e da pianista Sica Malaguti, a obra contou com os figurinos de Patrícia Muniz e direção Musical de Alexandre Elias e Flávia Costa. O videocenário foi realizado pelo grupo Cinema de Poesia.
Roda da Fortuna tem como principal proposta ampliar o alcance do canto lírico através de uma linguagem contemporânea, usufruindo livremente de todas as artes (música, cinema, dança…), buscando uma nova abordagem para a música clássica que, no Brasil, há muito está associada à ópera e à elite.
Ao realizar os vídeos, era preciso pensar na sua utilização cênica, nos cenários, na interação entre a projeção, na música, na atuação e na iluminação no palco – um trabalho no qual se percebe uma intensa polifonia artística.
Para a realização desse efeito, entre a plateia e a cantora, toda a boca de cena foi coberta por um fino pano preto, um filó vazado por centenas de furos. Esse método resultou em um aspecto estético interessante.
A projeção podia ser percebida no primeiro plano como se uma tela invisível estivesse na frente do espetáculo que ocorria no palco. Entretanto, era possível notar a projeção refletida no figurino, no cenário e no fundo do palco, conforme percebemos nas imagens abaixo.
Começa o estudo da projeção entre o cinema e o palco, possibilitando novas narrativas na comunhão dessas duas artes. As fotos a seguir mostram a visão da cantora e da pianista em relação ao público, que está em lado oposto ao das imagens projetadas.
Textos também eram projetados, adicionando um outro elemento à abertura da obra para a construção narrativa pelo espectador. A matriz do texto foi escolhida pelo diretor Luís Arthur, retirada de diversos livros de poesia, compondo um diálogo entre a poesia e a cena do espetáculo. Os trabalhos foram desenvolvidos a partir das cartas do Tarot. O nome de cada trabalho se refere diretamente ao seu nome correspondente nas cartas.
Na imagem abaixo, o texto anuncia a carta de Tarot número 22, ou seja, o mundo.
ABERTURA – UM OUTRO VERSO DO ESPAÇO VIRTUAL – 2005
Os argumentos iniciais e a direção na criação dos vídeos foram realizados em conjunto com Alan Castelo, que havia trabalhado anteriormente na construção do videocenário The Play. Para o início do espetáculo, a proposta era a criação de um universo, uma linguagem alienígena. O desafio era construir um vídeo com imagens geradas a partir de distorções e efeitos possibilitados pela edição digital não linear. Ao todo, 90 % das imagens nesse trabalho foram geradas por computador, recebendo o nome de Um outro verso do Espaço Virtual.
Duas atuações foram necessárias para a produção desse trabalho. A primeira, de Eduardo Strucchi, realizada no palco de um teatro, interpretando o papel de Puc na peça Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare, produzida pela companhia de teatro Soberanos, sob a direção de Victor Vaughan. A iluminação fantástica de Giba de Oliveira, que desenhou o chão de uma floresta com focos de luz, foi a base para o trabalho estético e para a construção da narrativa.
O desafio era demonstrar o princípio básico da magia, a flutuação, conseguida a partir da pintura de um vestido. Utilizando o pano do figurino como base para a composição de um outro espaço natural, foi possível obter a sensação de flutuação.
Eduardo Struchhi interpretou o primeiro mago. Ele atuava na peça como Puc, uma espécie de divindade mágica. Aplicando os estudos de movimentação de câmera e pintura aprendidos na série Poetas, pôde-se realizar esse trabalho, colocando o personagem no centro da objetiva e pintando o segundo plano. O mesmo processo foi realizado com o segundo mago, interpretado por Cristina Pinheiro, em espaço aberto.
O curta-metragem Enamorados é a união de imagens de beijos clássicas encontradas no final do filme Cinema Paradiso e trechos da peça 3,14 – A Matemática gera emoção, de Alan Castelo. Em cena, Mariska Michialin e o manequim Antonhy Py formam o casal que aparece em composição com as imagens cinematográficas. O grupo Cinema de Poesia tece, desse modo, uma homenagem ao teatro e ao cinema.
No campo sonoro, o estudo consiste em realizar uma rima entre o som e as falhas, os pequenos defeitos, como fios que aparecem na imagem, conseguindo uma sincronia.
Trabalha-se o conceito de caminho, estrada, procura, onde os pés se movem como cavalos sobre a terra do mundo, do urbano, da floresta. Andar sempre. O caminhar como a única razão para locomover essa máquina de ossos, carnes e sentidos chamada homem. Para ilustrar imageticamente o trabalho, imagens de pés, andares e corridas foram registradas. O vestido utilizado no mago foi captado durante a gravação dessas cenas.
O eremita, antes de tudo, representa a solidão, o homem, a natureza entregue à reflexão e ao pensamento. A imagem inicial colhida na natureza é a imagem do próprio ermitão, possível pela incidência dos raios de sol refletidos em folhas e no tronco de uma árvore. Desse modo, ilustra-se a afirmação do poeta Antonin Artaud, em que a poesia vem antes da objetiva.
O olhar poético alcançado pelo domínio técnico da ótica da câmera possibilita a personificação da imagem. A partir de elementos da natureza, cria-se vida, imagens, personagens, eremitas. Parte-se em busca de uma imagem-tinta a partir da solidão encontrada naturalmente, como o leve balançar de uma folha que se transforma em uma pintura em movimento.
A pintura a partir do cinema e do teatro era o objetivo pretendido. De todos os trabalhos da série, este é o de maior dificuldade técnica, sendo necessária a utilização de três softwares de tratamento de imagem para conseguir as texturas necessárias. Após 230 horas de trabalho e estudos, foi possível atingir a textura próxima à pintura desejada. Como base, foram gravadas imagens no teatro, onde Alan Castelo representa a figura do Homem Universal
Além das imagens captadas no palco, foram utilizados trechos de filmes em que aparecem cenas de touradas. É um trabalho artesanal, realizado quadro a quadro sobre as imagens, aproximando sua textura da pintura.
Aqui se mostra a pele do ator como tela para o quadro. Estuda-se a luz e a fotografia para que, na edição, as possibilidades possam ser potencializadas. A pintura como maquiagem da cena, do figurino, dos gestos, da ação, passa a ser utilizada como recurso dramático.
Na simbologia do Tarot, a carta Torre significa destruição, quebra e desestruturação. Grandes construções e prédios no centro da cidade do Rio de Janeiro foram registrados para compor a base de imagens deste filme.
Partindo das estruturas de edifícios de grandes centros urbanos, compostas por cenas bélicas, o trabalho possui uma aceleração forte, até as estruturas serem consumidas pelas chamas. A pintura agora entra na imagem interna dos edifícios.
ESTRELA – 2005
A esperança germinada no nascer de uma criança, um novo universo após a destruição. Imagens de ultrassom e da ingenuidade infantil, compondo o nascimento de uma estrela, interpretada por Giovanna Labella.
O Sol – 2005
Para realização desse curta-metragem, foram associadas várias imagens relacionadas a altas temperaturas, como o deserto e o sol. Com a função de compor um cenário, o maior desafio foi a realização de uma explosão de calor na construção de um sol composto de tinta. Para a realização dos efeitos no final do filme, foram utilizadas 99 camadas de imagens. Para calcular 10 segundos de efeito foram necessários cinco dias de processamento do computador.
A Lua foi o primeiro trabalho a ser realizado da série Roda da Fortuna. O objetivo e o desafio eram, a partir de outros elementos encontrados nos centros urbanos, criar uma lua. Para a realização desse trabalho foram utilizadas imagens de uma luminária, registradas na cidade de Porto Alegre.